segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Bendita" Chuva! rsrsr


E ali estava ela, a mulher dos meus sonhos deitada na minha cama. E tudo graças ao “bendito” temporal que alagou as ruas e avenidas e me impediu de deixá-la em sua casa. Bendito temporal
Nós estávamos voltando de uma festa quando a mãe dela ligou avisando sobre o alagamento numa pista no caminho da casa dela. Era melhor que ela passasse a noite com minha família lá em casa até que a chuva parasse e a água escorresse. Para que arriscar ficar ilhado, não é?
Chegamos a minha casa e todos já estavam dormindo. Peguei um pijama da minha irmã, daqueles enormes, para ela e toalha. Era tão normal que ela dormisse em minha casa que já não tínhamos constrangimento. Nos conhecíamos desde a infância e praticamente fomos criados como primos.
Enquanto ela tomava banho, arrumei o quarto. Combinamos que não dormiríamos essa noite. Travesseiros, almofadas e dois cobertores, um para ela e um para mim. Tigela de doces, 3 DVDs, porta do quarto aberta. (Uma regra criada desde que nascemos. Como sempre estávamos sozinhos nossas mães sempre estavam de olho na gente)
Ela saiu do banho como enorme pijama da minha irmã, meias nos pés, casaco de moletom, cabelos soltos caindo sobre os ombros. Eu nunca entendi como ela podia parecer tão linda mesmo com roupas tão normais. Eu devo ser mesmo um cara muito estúpido por pensar nessas coisas.
Minha vez de tomar banho. Visto uma camiseta branca de algodão e calça de moletom preta. Saio do banho e lá está com as pernas embaixo do cobertor, sentada na minha cama e bisbilhotando meus livros. Mando-a parar de mexer nas minhas coisas e ela me atira um doce na testa. Eu já estava acostumado com tais atentados, quando brigávamos eu sempre apanhava. Sento na cama e pego o outro cobertor, pergunto qual filme ela quer assistir e, ao invés de ver o filme, começamos a conservar... Sobre o filme, sobre músicas, atores, países, doces, chuva... Aos poucos ela ia escorregando ainda mais para debaixo de seu cobertor até ficar deitada. E continuamos conversando, desenhos antigos, comerciais, brinquedos que tivemos, filmes românticos e de terror, família, mais um pouco sobre a chuva que ainda não tinha parado.
E então um silêncio. Olho para o lado e ela está dormindo. De lado com o rosto virado para mim, os cabelos espalhados sobre o travesseiro, o corpo pequeno e esguio escondido sob o cobertor, os olhos fechados e as respiração lenta e compassada. Ela estava dormindo na minha cama. Parecia tão frágil e vulnerável, tão doce e tranqüila, nem lembrava a garota que me arrancava os cabelos quando criança. Ela sempre teve um certo domínio sobre mim, mas nunca me senti tão atraído (ou dominado?) como dessa vez. Ela que sempre escolhia as brincadeiras e os lugares para onde ir, que sempre fazia as coisas do seu jeito, de repente me pareceu tão... desprotegida.
Senti vontade de abraça-la, gruda-la contra o peito e mantê-la colada a mim o máximo que eu pudesse. Queria tê-la ali, em minha cama, todas as noites, mesmo que fosse com aquele pijama enorme.
Passei a mão em sua testa deixando meus dedos passearem pelos seus cabelos. O cheiro dela me hipnotizava. Um pensamento perturbador me sacudiu. Eu ia acabar acordando-a. Levantei da cama enquanto ainda tinha controle sobre mim mesmo, sentei-me na poltrona ao lado da cama e fiquei olhando-a dormir. Como ela conseguia dormir tão tranquilamente comigo por perto? Será que ela não se preocupava com o fato de eu ser um homem? Se eu fosse outra pessoa poderia muito bem tirar algum proveito da situação. Talvez ela só dormiu porque sabia que não era outra pessoa, era eu.
Por dentro um frio gostoso me acalmava e um nervosismo acolhedor fazia meus pensamentos, totalmente voltados a ela, não terem o menor sentido. Meu coração parecia que tinha ficado louco, não sei dizer se batia mais rápido ou mais devagar. A mulher dos meus sonhos estava deitada, dormindo na minha cama e isso me deixava feliz e aflito, porque tudo o que eu fazia era olha-la de longe, de perto. Tão perto que eu podia alcança-la, tão longe que ela não podia me ouvir. Santo Temporal, o que eu estava fazendo?
Levantei da poltrona, andei na direção dela, inclinei-me sobre seu corpo e peguei o controle remoto ao lado do travesseiro, desliguei a TV, peguei o outro cobertor, desliguei a luz, fiquei de pé ao lado da cama observando seu semblante sob a luz do abajur por mais um tempo e saí. Deixei-a em meu quarto e fui deitar na sala. Nessa noite, não dormi. Tive orgulho de mim mesmo por ter conseguido deixa-la sozinha, orgulho e raiva e vergonha de mim e dela.
A mulher dos meus sonhos estava na minha cama sem saber que era dos meus sonhos. Quanto levei para entender o que ela significava para mim? Quanto tempo ela levaria para perceber o que ela significava para mim?
A mulher dos meus sonhos estava na minha cama e a mulher da minha vida nos meus sonhos, pelo menos por enquanto. Ela no meu quarto, eu na sala. Tão perto, tão longe.

Paritcipação: Alanna Correia

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